terça-feira, 8 de abril de 2008

O mestre dos doutores


O Mestre dos Doutores


Já vem Sô Geraldo da Varginha. Um velho jovem de cabelos grisalhos, calça amarrada com um pedaço de corda e um sorriso de criança. Segue dengoso, abençoando quem por ele passa.
No seu balaio traz verduras e legumes frescos, colhido na sua rocinha.
Mora em Rio Piracicaba (Minas Gerais) no Distrito deVarginha, um lugarejo onde Judas perdeu as botas.
Dizem que suas "crias" foram mais de vinte. E todos bem criados naquele pequeno sítio, numa casinha branca e singela. De cá da estrada a gente vê fumaça sainda pela chaminé. Deve ser sua dona fazendo deliciosas quitandas. Até já provei algumas.
Um dia passou na minha porta oferecendo um feijão diferente. Lembro até da sua rizada falando que o feijão tinha o nome de "Rebenta Muié". Outra vez apareceu com uma cenoura baroa que era amarelinha igual ouro e dava em penca que nem banana, nunca tinha visto nada igual. Ganhava seus trocados vendendo de porta em porta seus achados da natureza.

Noventa e cinco anos de vivência!
Lembro dele contando todo orgulhoso que os "doutores" da Universidade Federal de Viçosa aparecia, de vez em quando, no seu sítio para aprender com ele o por que de algumas plantas que, no laboratório da Faculdade, não iam à diante.
Coisa simples, assim dizia ele, é só observar a lua para jogar a semente na hora certa. Mas Sô Geraldo, e esse fungo que pareceu nos pés de feijão? Também pudera, continuava ele, esses doutores não prestam atenção, observem os ventos, eles trazem os bichos todos no ar, tem que observar a natureza para plantar na hora certa. E assim ele dava uma aula, com sua sabedoria de matuto. Ia sempre na Universidade levar algumas sementes colhidas no seu quintal.
Todo final de ano, Sô Geraldo passava lá em casa todo orgulhoso, bem trajado nos contando que ia pegar o ônibus para Viçosa. É que era convidado de honra da Universidade e seria homenageado pela turma do Pós graduação e Doutorado. Foi até paraninfo de uma turma, não me lembro o ano. Já apareceu até no Globo Rural. Fazia palestras para os alunos da Engenharia Florestal, Agronomia e até Meio Ambiente.
Que beleza de engenheiro formado pela própria natureza!
Fazem cinco anos que ele se foi. Lembro de uma prosa dele só para me agradar: Sô Marquinhos, o senhor tem uma dona que nem a minha, ela conhece o manejo das coisas.Ela sabe manejar.
Quem soube manejar foi o senhor, meu saudoso e querido amigo.
Fica aí com Deus!

Nenhum comentário: