segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Muros, para que servem?





Muros, para que servem?

Começou lá atrás...

Idéia infeliz!

Vários pensamentos infelizes!

----Vamos nos separar.
----Vão nos roubar.
----Não quero ter contato.

Podemos quebrar esse velho paradigma?

Casas sem muro, talvez sim, talvez não.
Corações sem muros, sim!


O "Maior do Mundo" pede passagem!

Um clube, um baile, uma saudade


Peguei a Folhinha de Mariana (lembro dela, ficava atrás da porta do quarto da minha mãe), e gritei assustada:
---- Angela, estamos no final de maio, o baile do aniversário do Alvinopolense já está chegando, temos que guardar um lugar com Alaide ( nossa costureira) e vamos já para loja de Chiquito ver os tecidos . Bizé já comprou o dela e falou que Chiquito está uma fera, pois o vendedor deixou poucas cores e estampas, quem chegar primeiro leva o melhor.

Lembro da cara de Chiquito, olhar desconfiado, parecia que ele não gostava de atender as moças da Baixada, achava a gente metida e exigente. Falava assim:
----Já vem as enjoadas da Baixada!

Saíamos de lá, felizes com os tecidos e corríamos para o atelier de Alaide, que toda risonha, sentava conosco para nos ajudar na escolha dos modelitos.
Vitória de Sr. Jorge Turco, sempre aparecia, corria os olhos, morrendo de inveja!

Coração apertado, lembrava que, toda época do baile no Alvinopolense, meu namorado arrumava um jeito de terminar o namoro comigo.
É que ele estava fissurado numa garota do bairro do Gaspar e ela saracutiava para o seu lado.
De olho no relógio, da varanda lá de casa, via Paulo Andrade dando as últimas recomendações para Marinês:
---- Não espere o baile acabar, não entra no carro do Josias e não beba no copo de gente estranha, dizem que estão colocando uma tal de bolinha na bebida para as moças ficarem doidonas.

Que coisa deliciosa lembrar nossa chegada trinfal na porta do clube. Quantos degraus para chegar no salão. Naquela hora, até tropeçávamos, a ponto de Tuola ( o presidente do clube) gritar da portaria:
----Cês tão muito assanhadas, vão cair dessa escada, eu não tenho nada com isso!
Engraçado! Era demorado subir aquela escadaria toda, mas era gostoso chegar no salão, dar de cara com o conjunto tocando Beathes e ver o reflexo da luz negra no meu vestido, e ainda por cima passar os "zóios" nos rapazes, encontrar um bem lindo, conquistá-lo, dançar com ele a noite inteira, e nem dar bola para o ex-namorado, que, nessas alturas, já me olhava desconfiado, pois a outra garota tinha encontrado alguém de fora ("pião" de João Monlevade).

Dançar coladinho! Como era bom!
Azar o meu, não era com ele.
Azar o dele, não era comigo.

O baile acabou.
Voltamos para casa felizes da vida!
Angela tinha ficado com Cuca, Marinês vinha de carro até na esquina do Quimquim Terra, para seu pai não ver, e meu ex-namorado ficava de longe, vendo meu beijo de despedida, chupando o dedo!

Ah! De quebra, Jamil, meu vizinho, ficava atrás da janela do seu quarto, vendo nossa turma chegar, doido para amanhecer e ficar sabendo as últimas do baile.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Fé, cada um com a sua


----Santo Antônio do Fundão, Ana Luiza precisa viver, me ajude!
----Vamos fazer um trato, vai lá no hospital, agora, pega na mão do Dr. Elias e salva essa mulher. Em troca, vou trazê-la aqui na sua igreja, à pé, para agradecer a benção recebida, te prometo!
----Ah! De quebra, vou pedir pra ela doar dois lustres para sua Capela.

Maria Divina morava na cidade de Bicas, lecionava em Fundão (distrito de Bicas). Fundão tinha meia dúzia de casinhas pau-a-pique e a Capela de Santo Antônio.
Tinha tanta fé em Santo Antônio, que todo mundo a procurava para fazer as promessas.
Ana Luiza , 36 anos, empresária, não tinha muito tempo de pensar em santo, ir à missa, muito menos pagar promessas.
Contato com padres, igrejas, só mesmo até 15 anos, obrigada pelos pais.
Tinha horror de lembrar um fato acontecido quando adolescente. Em um leilão, depois da missa das dez, os frangos doados, para serem leiloados, estavam amarrados com os pés pra cima e agonizando, de tanta sede. Depois desse episódio, nunca mais voltou na igreja.

----Virgem Maria! Que poeirão danado! Você faz as promessas, e quem paga sou eu? E ainda por cima, essa caixa com os lustres está pesada demais!
---- Mal agradecida! Faça o favor de ficar de bico calado, engole essa poeira, que ainda é pouco.
Anda, anda, só falta mais uma curva para chegar na Capela. E para cumprir certinho a promessa você tem que aguentar, até lá, o peso dos lustres.

Maria Divina sentou nos degraus da capela, tomou fôlego, e entrou puxando Ana Luiza, dizendo:
---- Santo Antonio, cheguei com a moça, veio arrastando, mas veio. Sabe, meu santinho, obrigado por tudo. O Senhor sabe que mato a cobra e mostro o pau. Veio a moça e os lustres para enfeitar a capela. Sábado, à noite, quando o povo chegar para a missa, a capela estará linda. Colhi no meu jardim esses copos-de-leite para enfeitar o altar e deixo aqui, mais uma vez, meu coração agradecido e cheio de amor e fé.

---- O que você está olhando? Agradeça Santo Antônio, você está viva!
---- Maria, ja rezei.
---- Só isso! Dá um beijinho nele, passa as mãos na suas vestes, pega a água benta, passa na sua cicatriz. Pensa que Santo Antônio é bobo? Ele gosta de carinho. Conheço-o como a palma da minha mão!

Ficou, lá atrás, a curva e a poeira da estrada, mas a fé, o amor, o exemplo daquela mulher fez uma reviravolta na vida de Ana Luiza.