segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Maria Regateira





Quando eu era criança, lá em casa tinha um quarador de roupas.
Naquela época, toda casa tinha no quintal, várias touceiras de capim,
e ali quarava a roupa, antes do meio dia, para a roupa clarear.
Minha mãe tinha uma plantinha que esfregando suas folhas nas roupas,
elas ficavam branquinhas e cheirosas.
Essa planta chama(va) Maria Regateira (nome popular,vou ver se encontro seu nome científico).
Tinha um perfume tão bom!

Guardo nas minhas lembranças, o cheiro das minhas roupas.

Regateira porque era teimosa.
Regateira porque se oferecia, se dava, se perfumava.
Queria viver a qualquer custo, nascia em qualquer terreno,
sem o mínimo de cuidado.
Queria mesmo era embelezar os quintais com suas humildes flores,
e perfumar todos que cruzassem seu caminho.

Lembro do seu sorriso para mim, na beira da cerca, querendo dizer:
---Olá amiguinha, aceita uma florzinha?
---Pode pegar, não ligo. Até acho bom enfeitar e perfumar o seu quarto.
Então eu colhia algumas flores e saia correndo para colocar na jarra
que ficava em cima da minha pentiadeira.

Acho que até as borboletas gostavam de sentir seu perfume,
pois a beijavam muito, deixando as cambarás,
as boninas e até os bugarins de lado.

Achei interessante e também profundo o significado.
Tanto é, que ficou registrado no meu coração de menina.
Também porque estou me sentindo uma maria regateira.
Gosto de perfumar a vida de quem tromba comigo.

sábado, 15 de agosto de 2009

Guardados


Faço jus ao meu coração,
Sondo minhas lembranças,
Sei que não são em vão.

Sinto o cheiro do figo cristalizado,
O reflexo dos olhos verdes
na velha compoteira
de uma Vó enciumada.

Dona prendada!
rosas e margaridas ganhavam vida
nas toalhas de linhos,
uma branca para Santo Antônio,
outras enchiam o baú de cedro.
Rezadeira e casamenteira,
novena é que não faltava.

À tardinha, banhava os pés,
entre quitandas e quitutes,
uma prosa e outra,
no aconchego da varanda,
fuxico é que não faltava.

Um dia se foi...
entre crivos e crochet,
toalhas e colchas contam histórias,
singelos guardados.
Saudade é o que não falta.