terça-feira, 29 de abril de 2008

Pedaços


Pedaços

Enquanto não chega a hora, ela vai espalhando por aí,
Pedaços dela.

No rosto, pedaços de sorrisos,
Olhares balsâmicos,
Cheiros no lugar de beijos.

No peito, calor.
Nos braços, abraços.
Nas mãos, zêlo.

Seu sorriso pega serviço cedo.
Dá um gostoso para ela e outro para seu lar.
Abre a porta, sorri para Jesus e O convida para entrar.

Na mesa do café, dá o seu melhor.
É para levantar o astral.

O dia passa... afazeres...

À noite manda um pedaço dela para o além, cheio de saudades.
Do lado de lá tem uma leve impressão que ele a espera.

Toda mulher sabe que no seu caminhar espalha "fortes pedaços".

E quando chegar a "hora" uma Energia Suprema recolherá todos eles e a santificará nos Céus.

Evaporei


Evaporei!


Sinto que evaporei.
Estou no céu!
Prefiro as nuvens, no momento.
Ficar lá embaixo, só se o tempo melhorar.

Não tem verde, não tem brisa,
Nem cheiro de terra,
Só volto depois da chuva.

Meu lado maçã está sem gosto.
O galho da amora secou.
O morango, mofou.

Virar um pirulito, mesmo tutti-frutti
De jeito nenhum.
Só queria dar um gostinho de fruta em sua vida.

Então, vou esperar a chuva chegar.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Valentina Valente


Valentina valente



Vejo você, tão frágil.
Tão pequenina.
Tão terna nos seus 100 anos.

Seus olhos brilham,
Seu olhar é de alegria.
Sua voz tão meiga.



Valentina!
Uma mulher valente.
Que nem seu nome.

Mora sozinha, minha vizinha.
Mas não vive só.
Tem quem te dê banho,
Não falta o alimento.
Tem as criãnças que brincam com você,
Tem Deus que vela seu sono.

És feliz!
Seus passinhos a conduz... Para onde?
Já sei!
Para viver mais um dia.
Esse já foi.
Amanhã, quem saberá?
Só Deus sabe.

Boa noite, bons sonhos!

O mestre dos doutores


O Mestre dos Doutores


Já vem Sô Geraldo da Varginha. Um velho jovem de cabelos grisalhos, calça amarrada com um pedaço de corda e um sorriso de criança. Segue dengoso, abençoando quem por ele passa.
No seu balaio traz verduras e legumes frescos, colhido na sua rocinha.
Mora em Rio Piracicaba (Minas Gerais) no Distrito deVarginha, um lugarejo onde Judas perdeu as botas.
Dizem que suas "crias" foram mais de vinte. E todos bem criados naquele pequeno sítio, numa casinha branca e singela. De cá da estrada a gente vê fumaça sainda pela chaminé. Deve ser sua dona fazendo deliciosas quitandas. Até já provei algumas.
Um dia passou na minha porta oferecendo um feijão diferente. Lembro até da sua rizada falando que o feijão tinha o nome de "Rebenta Muié". Outra vez apareceu com uma cenoura baroa que era amarelinha igual ouro e dava em penca que nem banana, nunca tinha visto nada igual. Ganhava seus trocados vendendo de porta em porta seus achados da natureza.

Noventa e cinco anos de vivência!
Lembro dele contando todo orgulhoso que os "doutores" da Universidade Federal de Viçosa aparecia, de vez em quando, no seu sítio para aprender com ele o por que de algumas plantas que, no laboratório da Faculdade, não iam à diante.
Coisa simples, assim dizia ele, é só observar a lua para jogar a semente na hora certa. Mas Sô Geraldo, e esse fungo que pareceu nos pés de feijão? Também pudera, continuava ele, esses doutores não prestam atenção, observem os ventos, eles trazem os bichos todos no ar, tem que observar a natureza para plantar na hora certa. E assim ele dava uma aula, com sua sabedoria de matuto. Ia sempre na Universidade levar algumas sementes colhidas no seu quintal.
Todo final de ano, Sô Geraldo passava lá em casa todo orgulhoso, bem trajado nos contando que ia pegar o ônibus para Viçosa. É que era convidado de honra da Universidade e seria homenageado pela turma do Pós graduação e Doutorado. Foi até paraninfo de uma turma, não me lembro o ano. Já apareceu até no Globo Rural. Fazia palestras para os alunos da Engenharia Florestal, Agronomia e até Meio Ambiente.
Que beleza de engenheiro formado pela própria natureza!
Fazem cinco anos que ele se foi. Lembro de uma prosa dele só para me agradar: Sô Marquinhos, o senhor tem uma dona que nem a minha, ela conhece o manejo das coisas.Ela sabe manejar.
Quem soube manejar foi o senhor, meu saudoso e querido amigo.
Fica aí com Deus!

Uma longa e deliciosa viagem


Estou voltando de uma viagem maravilhosa...
Alguém já fez uma viagem assim... através do sonho?
Eu fiz, por que não?

Sonhei tanto! Descobri que viajei durante anos, através dos livros e revistas.

Estava com treze anos quando ouvi falar de um país chamado Peru. E lá existia uma civilização que construiu uma cidade no topo de uma montanha. Era a civilização Inca. Foram perseguidos pelos inimigos durantes anos e fugiram criando uma fortaleza e, por lá viveram muitos anos. Essa fortaleza denominada Macchu Picchu, por sinal está entre as "Sete Maravilhas do Mundo" e, é reconhecida como Patrimônio Histórico da Humanidade.

Com quinze anos continuava viajando.
O espírito andino, sagrado e monumental tomou conta dos meus sonhos, nesta terra onde mito e história se fundiram.

Com dezoito anos, fui estudar em Belo Horizonte.
Para minha surpresa, visitando a Feira hippie, encontrei uns peruanos, descendentes dos Incas, vendendo pulseiras e anéis confeccionados artesanalmente por eles. Me enfeitei com suas pratas. Mais tarde, para minha tristeza, esqueci minha bolsa dentro de um taxi e lá se foram minhas jóias raras.
No meu guarda-roupa tinha blusas, gorros, e mantas de lã de lhama. Nas noites de inverno, quando ia para minha cidade no interior, elas me aqueciam. Até o namorado pegava carona e se achegava a mim, para esquentar. E eu pensava que era meu corpo que o esquentava. Só agora me dei conta disso.

Aos vinte e três anos voltei para o interior, me casei e montei uma loja de presentes. Adivinha os tipos de presentes que comprei para vender?
Só tinha olhos para as roupas, tapetes, quadros e pratas confeccionados pelos peruanos.
Para minha alegria, a mãe de uma amiga tinha uma irmã que morava no Perú e toda viagem que fazia por lá, trazia muitos presentes para mim.
Minha casa era toda enfeitada, viajava a toda momento que entrava no meu quarto, na sala, até no corredor e dava de cara com aquele colorido maravilhoso dos tapetes, das colchas e dos quadros na parede. Os tons vermelho, amarelo, laranja, roxo e azul anil brigavam para tomar o lugar do arco íris na minha vida e eu ficava imaginando essa cores nos fios de lã, nas mãos das Incas, como se elas tivessem mesmo um pedaço do céu no seu colo. E eu me imaginava no meio delas, a tecer um lindo arco íris.

Dezembro de 2007, um dia qualquer, uma hora qualquer...
Bateu na porta, fui atender.
Adivinha quem era?
"Eu" chegando.
--- Entra.
--- Puxa! Demorou!
--- Voce acha?
--- Só quarenta anos.

Quantas viagens lindas fazemos ao longo da vida e nem nos damos conta.

E Deus mandou um lindo presente


E Deus mandou um lindo presente...

E Ele caprichou!
O dia nasceu lindo!
Preparou um céu tão azul...
Um sol dourado,
Uma brisa suave...

A cegonha fez presença nos meus sonhos...
Chegou toda feliz e orgulhosa,
Sabia que seu Senhor a convocou para uma grande missão.
Há anos, seu trabalho é único, mas aquele dia parecia que alguém, na terra, mas precisamente uma avó, a mais bobona de todas, fez uma aliança com o Dono do mundo, e ela teria que seguir à risca essa preciosa entrega.

Então...
Levantou cedinho, se banhou num lago de águas cristalinas, encheu os pulmões do mais puro ar,
Afiou os bicos, teceu uma toalhinha com o mais puro algodão e,
voou aos céus, pegou Yasmin dos braços do Senhor e a entregou no endereço certo.

Mais um anjo para iluminar um lar aqui na terra.
Que bom que esse anjo chegou...para o meu lar.

E a cegonha seguiu seu caminho. Voou nas alturas, pois sabia que teria novas missões pela frente, e que seu Senhor tinha pressa.

A menina dos Seus Olhos, a terra, estava precisando de muitos anjos.

Cada um é cada um

Chiquito é daqueles descendentes de italianos, cujo pai veio do interior da Itália, região da Calábria, após a segunda guerra mundial.

Sistemático, caladão, herdou uma "venda", que até hoje tem as mesmas características de oitenta anos atrás.
Ele é tão "ele", que certa vez ao entrar no seu comércio para comprar uma peça de pano, perguntei por detrás do balcão:
----Chiquito, quero aquela peça, a anti-penúltima daquela fileira, e apontei o local. Ele, simplesmente me respondeu:
----Não tô com vontade de vender aquela não, escolhe outra.
----Mas gostei da tonalidade do pano. Pega lá pra mim?
----Mas não quero vender essa peça, uai!

Dona Ivone tinha acabado de chegar do Rio de Janeiro, toda bronze, shortinho curto, pernas carnudas, bunda estilo Raimunda, alegre, fogosa, enfim pronta pra engafunhar num mineiro. E era bonita a Dona Ivone, nos seus sessenta anos.
Ia passar uma temporada na casa da sua nora, que cuidava de uma floricultura.
Pensei logo em ajeitar um namorado para ela, herdei do meu pai a mania de querer ver todo mundo casando, ou namorando. Não importa, queria mesmo era ver a bela carioca feliz.

Falei do Chiquito pra ela. Enchi a bola dele. Fui até um pouquinho mais longe , dizendo que ele deveria ter uma poupança bem gorda, que ela mudaria até o estilo do seu comércio. Trocaria aquelas prateleiras comidas de cupim, não mais venderia pinico, chaleiras, colheres de ferro, coador de café e faria uma fogueira com aquelas pilhas de panos poeirentos e cheios de buracos de traças, por roupas e bijouterias de griffe, sapatos estilosos, tudo bem à moda carioca.
---- Mas eu nem conheço o Chiquito!
----Não tem importãncia, Dona Ivone. Você chega de mansinho, diz que trabalha na floricultura e o convida para uma visita às belas flores. Não esqueça de dar um "olhar carioca" e esse lindo sorriso pra ele.

Dona Ivone chegou de mansinho, comprimentou o italiano avarento, se apresentou, sorriu e jogou todo seu charme. Nem preciso dizer que chegou rebolando, aguçando seu tesão adormecido, atrás daquele velho balcão. Fez o convite:
----Seu Chiquito, apareça lá na floricultura da minha nora. Chegou muitos vasos de flores, cada um mais lindo que o outro.
E ele respondeu:
----Gosto de flor não!
Encontrei com Dona Ivone, à noite toda chué, murchinha e xingando o mal educado do italiano.
Também pudera, nas bocas das Matildes da cidade, Chiquito gostava mesmo era de cantar as empregadas domésticas. Sempre deixava sua janela serrada, à noite, caso sua cantada fosse aceita.
Também, quem perdeu foi ele. Dona Ivone fez a festa por aquelas bandas...
Dançou muito forró, teve vários namorados e todos bem mais novos que o italiano.
Chiquito continua com sua venda, atrás do balcão, vendendo seus panos empoeirados, comidos de traças, feliz da vida!

De vez em quando tira uma na calada da noite, tá ruim

Antídotos infalíveis


Chorando,
Venço a mágoa,
a angústia,
a amargura.

Choro que brota,
percorre todo meu ser,
desabafo!

Sorrindo,
conquisto a paz.

Tremenda energia que brota de mim.
Me sinto uma flor, um sol, ou mesmo uma lua, sei lá.
Uma deslumbrante energia!
Com quem eu encontrar, vai gostar de receber.
E eu de repartir.

Choro e riso,
dois antídotos infalíveis.

Um convite especial


Qual foi meu espanto, depois de uma forte ventania passar sobre minha cidadezinha, ao correr lá no pomar e ver o chão qualhado de mangas Ubá ( uma manguita delicada e muito saborosa encontrada na região da mata das Gerais).

Senti a menina Ana...
Anos atrás, toda serelepe, correndo pomar abaixo, com uma cuia, correndo pra lá e pra cá, catando as mangas, que pediam para serem colhidas e devoradas.

Voltando à Ana cinquentona...
No céu, as nuvens armavam o maior complô para atiçar meus neurônios, e conseguiram.
De repente, assustei!
Ajudadas por "São Pedro", mandaram pingos de chuvas, por sinal, bem grossos, que me molhou, me banhou.
Olhei pro alto e vi que elas me pegaram de jeito.
Há anos corria dos seus pingos malvados, assim achava.
Afinal, ficar molhada de roupa e tudo, ninguém merece.

Bem, resolvi que desta vez seria diferente.
Ao sentir no rosto aquela chuvarada toda, não correria, não desta vez.
Fiz diferente. Olhei pro lado e pro outro, não tinha uma alma viva me olhando. Então...

Tirei a blusa, a calça jeans, o sutiã, a calcinha e fiz a festa!
Era isso que ela queria: Me banhar!
Abusei.

Enquanto seus pingos batiam no meu rosto, nos cabelos, nos seios,
chegou lá dentro de mim, um recado de Deus:

--- Menina Ana, tô chegando. Entenda!
Essa ventania, a corrida até o pé de manga, os pingos d'água, não te dei nem tempo pra enconder.
--- Quero dançar com você, fazer o nosso carnaval.
--- Me dê a sua mão, cante comigo uma canção de amor, me abraçe, sinta meu calor, meu poder!!!

Abraçei com Ele, cantamos uma linda canção, oramos o "Pai Nosso", e qual foi meu espanto!
Até seus anjos surgiram batendo palmas e mais palmas, num lindo compasso.
Me banhei por fora e por dentro.
Dancei, pulei, sorri, chorei,
me embriaguei na chuva, uma tarde inteira.

Só parei quando ouvi o grito da minha irmã:
--- Ana, você enlouqueceu?
--- Corra, o bloco está passando.

Era sábado de carnaval.

Aguinha do meu coração


Agüinha do meu coração,

Fiquei sabendo que estão maltrando você.
Que você pode até desaparecer do mundo.

Não pode!

Você é muito boa pra nós!

Tô aqui pensando um jeito de proteger você.
Fui até lá na torneira do banheiro e tentei de pegar,
só que não dei conta.
Queria cuidar de você, igual eu cuido da Dudu, minha gatinha.

Por que será que os adultos não te ajudam?
Andam falando que estão jogando lixo nos rios,
matando os peixinhos.
Vi até um peixinho morto lá no lago do parque.

Nossa!
O que vai ser de mim e da Dudu, quando a gente crescer?
E de todas as criancinhas? E dos outros bichinhos?
Puxa!
Quando não tiver mais agïinha pra molhar o vaso de orquídea, ela vai morrer.
A vovó vai ficar triste.

Será que a terra toda vai secar?

Dudu, ja sei como ajudar.
Chega bem pertinho, vamos rezar.
---- Anjinho da guarda, mamãe tá sempre falando que você cuida de nós, então cuida também da nossa água, não deixe ela secar. Prometo ser boazinha.
Amém.

Bons tempos virão


Vaguei.
Muito!
Empurrada para caminhos pedregosos,
sedenta, esfomeada,
não vi as horas passarem,
nem os dias,
nem os anos.

Tal qual uma égua,
com a dor de ser marcada,
a fogo e ferro,
sofri.

Apanhada a laço,
acorrentada fiquei.
Por longas noites, chorei.

Me pergunto?
Haverão mãos, braços,
ou mesmo um canto de ninar?

Espera aí!
Posso voltar.
Deixei rastros.
Eles me guiarão.
Encontrarei sementes,
de certo, germinarão.

Plantarei de novo,
revolverei a terra,
o solo renascerá,

Já sinto o sabor da colheita,
em sonhos,
por enquanto!

Baile Hippie


Baile Hippie


A semana tinha começado animada,
O tão esperado baile hippie seria no próximo sábado.
A calça Lee já estava a caminho, era caríssima!!!
Tive que redobrar meus trabalhos na mercearia do meu pai e adular minha mãe pra sair a grana, mas desta vez teria a tão sonhada calça jeans.

À noite, segunda, terça, quarta, quinta e sexta, encontrava a turma pra gente fazer os planos, juntar os sonhos, encher de expectativas nossos corações adolescentes.

Bem em frente da minha casa, morava a costureira, Alaide (Lala, para os íntimos).
Ela adorava ver a gente chegando com os cortes de tecidos, onde com seu bom gosto, inventava cada roupa... parecia o Clodovil.
Pra esse baile tinha bolado um colete todo de franja, em couro preto. Adorei a idéia!

Meu Deus! Onde vou conseguir o couro?
Lembrei de Sô Raimundo Nazário.
Ele fazia arreios de couro.
Vai ser lá mesmo que vou conseguir um pedaço com ele.
Quinta-feira consegui convencer Seu Raimundo.
Ele, que estava acostumado a lidar só com cavalos, custou pra entender que um pedaço de couro daria um colete.

Resolvi ficar calada, queria ser a única no baile a usar um colete de couro com franjas, pra isso, contei com o silêncio também da Lala.

Faltava uma coisa: as botas!!!

Nunca tinha usado botas, nem dinheiro tinha pra comprar.

Lembrei que tinha visto algo parecido no Sô Raimundo Nazário.
Ganhei foi xingo, afinal aquela guria, meio maluca, atrevendo-se a usar uma bota de vaqueiro, ainda por cima, pra ir dançar?
Saí de lá com a bota, ele deu até um arremate com franjas, pra combinar com o colete.

Ai!!!! Que aflição gostosa!
De sexta pra sábado nem consegui dormir direito, só pensando
no baile hippie.
Sonhei que fiquei tão linda, tão doidona, tão hippie que aquele garoto, por quem eu estava me desmachando , ficou de queixo caido por mim.

Sábado! Dia lindo!
Lavei meus cabelos encaracolados, sequei-os ao sol, pra ficar com muito brilho (nem tinha salão por aquelas bandas, ainda),
fiz as unhas, passei esmalte vermelho pra combinar com o batom morango da Avon.

Lá pelas sete horas da noite fizemos uma concentração na praça.
De longe, estava a galera masculina, de olho na gente.
Só com o olhar, já dava um sinal que estaria nos esperando no clube.

Dez horas da noite...
Esqueci de dizer que o Industrial (esse era o nome do clube) ficava de frente da minha casa, do outro lado da pracinha.
E que era a primeira vez que minha mãe deu carta branca pra eu ir sozinha num baile, era demais!

Dez horas da noite...
Atravessamos a praça, coração na goela,
qual foi meu espanto!
Não tinha nem mesas, nem cadeiras dentro do clube.
Só o palco, onde o conjunto "Os Morcegos" botava pra quebrar!

Espalhamo-nos pelo chão do clube, que nem hippie.
Também, com minha calça jeans, senti-me livre, leve e solta.

Bebi meu primeiro HI-Fi, dei o primeiro trago no cigarro, e beijei muiiiiiiiiiiito.
Saiu todo o batom.

Tem, até hoje, gosto de "quero mais"

De coração para coração


De coração para coração



Filha,
Onde anda você?
Em que momento da sua vida eu não estava presente para pegar suas frágeis mãozinhas e dizer: É por aqui seu caminhar.
Saiba que, mesmo quando eu não estava presente fisicamente, meu coração, meu espírito, meu amor incondicional agia e age, a todo segundo, minutos, horas, dias, anos e pela eternidade afora para sua felicidade.

Não tenha medo do bicho papão, do boi da cara preta, nem da bruxa malvada.

Lembra, aquela noite, quando você era pequenina?
Você acordou chorando, tremendo de medo, gritando:
----Mamãe, mamãe!

Pode me chamar de novo. Grite bem alto, berra!!!
Estou de prontidão, com as armas mais possantes do mundo, pra lutar com e por você.

Olha à sua volta.
A vida está lá fora de esperando!

O dia está lindo!
O sol te espera, pronto para te aquecer.
A chuva, pra lavar sua alma.
Dispa-se dessa amargura, dessa angústia.
Você é linda!

Minha menina, sou sua fada madrinha!