sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Na trilha dos sessenta

Foi só um zumbido para me despertar.
E mal sabia a dona do zumbido (a muriçoca) que era disso que eu estava precisando: despertar.
Esfreguei os olhos, olhei o quarto aconchegante do meu chalé, levantei.
Abri a janela, desci as escadas procurando por algo, talvez uma estrada.
Resolvi caminhar pela trilha.
Desde que percorri aquela trilha pela primeira vez, algo mudou dentro de mim.
Voltei nela ontem pela tardinha. Achei-a sinistra. Tinha chovido, o chão, bem cuidado, de terra batida estava ainda molhado e frio.
Haviam pingos nas folhas dos bambus, arrepiei.
Incrível como aquela trilha mostrava passos. Meus?
Cada lugar que eu passava, ficava atenta. Até um simples cipó, emaranhado nos bambus, queria me dizer algo. Dizia e eu escutava. Meu coração ofegante concordava.
Senti que o universo daquele lugar, onde folhas, teias de aranhas, tocas de coelho, ninhos de passarinhos, até um broto de bambu que despontava do solo, todos, todos, queriam entrar no meu universo e mostrar a minha trilha.
Então olhei para trás, vi uma estrada, diversas encruzilhadas, onde tive que optar por caminhos desconhecidos, incertos talvez. Alguns com muitos obstáculos.
AH! Esses aprendi a retirar algumas pedras, levantar dos tombos que levei, Valeu, valeu!
E agora? Estou na trilha dos sessenta anos. Incertos, possivelmente.
Descobri que não quero ficar com o pé no chão.
Um passarinho me contou, na trilha da minha chácara que voar é lindo, para eu não desistir nunca. Ainda deu-me um conselho:
---Chega lá em baixo só para se energizar na terra, bom mesmo é seguir... de encontro ao infinito.
Voltei mais leve. Vou me aconchegar debaixo das minhas cobertas, com meu bem querer.
Só não quero outro beijo da muriçoca