sexta-feira, 31 de outubro de 2008

No tempo do velho Nico


Um amontoado de telhas na porta do velho barracão,
um vaso sanitário quebrado no canto do muro (lembro do banheiro da antiga casa, as paredes em tons de verde musgo, torneira dando choque, achava importante ter um chuveiro em casa, meus vizinhos tomavam banho de caneco ou de bacia), o forno de barro também quebrado, uma velha mesa, faltando um pé, encostada na velha goiabeira, o pé de bugarim esquecido, enfim, um quintal abandonado.

Quando Nico era vivo, seu quintal anunciava sempre um novo nascimento, ora de uma ninhada de pintinhos, ora por entre as ramas, escondidinha, uma abóbora, ora um botão na rozeira branca.
Lá pelas cinco da matina, dava pra ouvir o barulho da sua enxada nos pés de mandioca.

Seu quintal era uma festa!

Para cada tempo, preparava a bendita terra para um grande acontecimento.

Em março, vestia a horta com canteiros em vários tons de verde (alface, couve, cebolinha, salsa, agrião).
Chegava com um ramalhete de verduras e sentia prazer de deixar na cozinha para serem degustados.
De quebra, enchia os bolsos da velha bermuda, de goiabas, mexericas, laranja e jambo para a sobremesa, complementando com uma flor de bugarim para dar cheiro na sala de visitas.

Dava gosto ver o velho Nico chegando do quintal,
todo suado, as mãos e os pés sujos de terra, assoviando uma cantiga.
Feliz da vida, contava que viu um buraco de Tatú, no ninho do Sabiá apareceu um ovinho, na semana seguinte já daria pra chupar da cana caiana, seu dedo mindinho estava coçando muito e que era um danado de um bicho de pé, dos brabos! Até lembro dele dizendo:
---- De tarde um docês dá um jeito nisso pra mim, minhas vistas não tá lá essas coisas!

Tomava um bom banho, vestia seu terno surrado (calça e camisa) e todo satisfeito abria as portas do seu comércio, onde os raios de sol inundavam e esquentavam todo o ambiente, abençoando seu amado trabalho.
As pessoas iam e vinham, nos seus afazeres, recebendo um cumprimento afável do Sô Nico do Bar, assim era conhecido.
Como era doce meu velho!

sábado, 11 de outubro de 2008

Prove só um pouquinho de mim


Ah!Como eu gostaria de ser um salmão,
Estar em banquetes, ser degustado, devorado,
Por reis e rainhas.

Minha sina, embora simples,
É de grande valor,
Por trazer à tona, minhas emoções,
Suprir minha fome,
e quem sabe, de alguma nobreza,
que algum dia foi simples também.

Atiçar a brasa, fagulhas adormecidas,
Incendiar corações,
salpicar afetos e saudades,
servir meu coração
como minha vida é,
simplesmente.